Posts com Tag ‘racismo’

Existe uma série de frases que refletem sobre a brevidade da vida, que dizem como o tempo passa rápido e o quanto temos que aproveitar cada momento. Atualmente (não sei especificar exatamente desde quando), não basta viver apenas, tem que se mostrar cada instante que se vive. É preciso registrar, “publicizar” e, principalmente, que as pessoas interajam com você.

Tenho um amigo psicólogo cujo paciente viajou para conhecer uma cidade, mas no primeiro dia não conseguiu internet para poder publicar as fotos no Instagram. O sujeito ficou bastante incomodado. Confessou para o meu amigo que até ele conseguir divulgar um registro da viagem sentia como se não estivesse saído de sua própria casa.

Se as mídias sociais já são capazes de alterar a forma como agimos com si próprios, imagina o quanto tem interferido nas nossas mais diversas relações com o mundo?

Para este bebê de um ano de idade, uma revista parece um iPad que não funciona. A descrição do vídeo diz que ele mostra como as revistas são inúteis agora e impossíveis de serem compreendidas pelas pessoas que são nativamente digitais.

Nas décadas de 80 e 90 do final do século passado, as revistas voltadas para a cobertura do mundo das celebridades e da televisão eram um sucesso absoluto no mercado editorial brasileiro, afinal, a construção da fama acontecia a partir dos veículos de comunicação de massa. Hoje em dia as celebridades estão em praticamente todas as mídias sociais, produzindo suas próprias notícias, transformando as vidas pessoais em espaços para publicidade.

Antes a versão oficial era publicada pela mídia. Agora as mensagens dispensam o tratamento profissional jornalístico e são distribuídas pelos próprios personagens da história. E mesmo quando há a presença de um profissional de comunicação na gestão das redes, a intenção é que a comunicação seja estabelecida de forma pessoal a fim de que a audiência tenha o sentimento de intimidade e confiança com a personalidade.

O Twitter é uma dessas plataformas de interação que proporciona um espaço democrático para expressão, debate e engajamento do público. O documentário Project #LIVE – Twitter oferece uma visão da abrangência da rede e da sua capacidade de conectar pessoas completamente diferentes e desconhecidas entre si em torno de um assunto comum.

Em abril de 2014, após o jogador de futebol brasileiro Daniel Alves sofrer um ataque racista em que um torcedor atirou uma banana ao campo no jogo Barcelona X Villareal, o craque Neymar instantaneamente em solidariedade ao companheiro publicou uma fotografia com o filho em seu Twitter acompanhada da hashtag #SomosTodosMacacos. Imediatamente a atitude e a hashtag ganharam o apoio de vários famosos influentes, além de outros usuários “comuns” que se engajaram na campanha contra o racismo.

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Que a causa era nobre e legítima, não há dúvidas. Mas a verdade por trás da atitude de Neymar era que uma das maiores agências de publicidade do Brasil tinha sido a mente que concebeu a campanha (que já estava pronta, apenas aguardando uma oportunidade para ser lançada).

Todos os dias milhares de pessoas sofrem racismo. Nas partidas de futebol dos campeonatos europeus, os jogadores afrodescendentes assistem a esses tipos de manifestações dentro e fora do campo. Ninguém (ou quase ninguém) jamais foi capaz de sensibilizar tanta gente.

Bastou uma ideia, uma foto “caseira”, uma pessoa e uma “rede social” para que outras milhões colocassem o assunto na mesa para debate – dentro e fora da internet. A campanha repercutiu entre os usuários do Twitter, foi para o Facebook, ganhou as páginas dos jornais, apareceu na tela da televisão, foi vista por todo um país. Por mais que um indivíduo estivesse off-line, a força da internet e sua capacidade atingir tudo e todos é uma prova que independente de vontade #SomosTodosOnline.